Bin - Você tem medo?
Bakuna - De que? Você não diz nada com nada.
Bin - Do terrorismo?
Bakuna - De qual terrorismo?
Bin - Como assim, “de qual terrorismo”?
Bakuna - Desses de homens encapados em fios-bomba? Extermínio de presos nessas cadeias imundas? Pit-bulls que dilaceram seres humanos indefesos? Seqüestros, assaltos a mão-armada? É desse terrorismo que você está falando?
Bin - Claro! E de qual haveria de ser, oras?
Bakuna - O terrorismo de não ser, “oras”!
Bin - Como assim?
Bakuna - Quem é você?
Bin - Que pergunta é essa?
Bakuna - Quem é você?
Bin - Eu tenho um nome, endereço fixo, emprego fixo, amigos, previdência social, salário, conta bancária...
Bakuna - E o que tem de você nisso tudo?
Bin - Oras, como assim?
Bakuna - Você existe?
Bin - Dá pra ser mais claro?
Bakuna - Claro. As coisas existem em você. Um beijo virou mercadoria no seu dia-a-dia. A lua é apenas um ornamento que pode ou não caber dentro do seu orçamento. O que você diz ser, é fantasioso. Você só aceita a receita. Seu bolo é padronizado. A sua vida já deixou de ser alquimia faz tempo. E seu tempo, então? Cronologia pura. As suas horas estão desgastadas no chão de concreto e fabricação barata que você pisa. Seus crimes são contra sua própria essência. E você sequer percebe que você nem existe. Te encaparam de um jeito tão belo pros padrões que faz tudo parecer sonho. Um sonho que de onírico só resta a piedade alheia.
Bin - Eu acho que você é louco!
Bakuna - Conclusão prática pra encher os hospícios.
Bin - Você é louco.
Bakuna - Por que você não se mata? Em nome de ser quem você é. Pronto! Um harakiri em nome do seu nome, de seu estilo de vida? Você teria coragem?
Bin - Não tinha pensado nisso...
Bakuna - Eu poderia dissertar sobre os mártires do suicídio. Eles serão eternamente lembrados. O que você acha de entrar pra história como eles? Só te falta isso pra você provar ser quem você é... E então? O que você acha?
Bin - Você me ajudaria?
Bakuna - Taí uma coisa que sei fazer muito bem!
Bin - Você vai descrevendo sobre os mártires enquanto eu vou sumindo.
Bakuna - Podemos começar agora?
Bin - Preciso me preparar.
Bakuna - Pra morrer?
Bin - Não, pra entrar pra história!
Bakuna - Claro!
Nenhum comentário:
Postar um comentário