7 de outubro de 2008

A memória também nos faz chorar, mesmo quando nos conta histórias que alegres um dia foram.

Lendo o blog do Jarbas me deparei com esta triste cena e não resisti em publicá-la aqui.
Como não consegui copiar as fotos do site, vocês podem visitá-lo pessoalmente no
http://uivoslatidosefuria.zip.net
mais especificamente no dia 30/09/2008

DE QUEM É?!

Agora pouco subi pra tomar um café. Na Angélica vi algumas pessoas revirando e folheando uma pilha de coisas jogadas calçada, do outro lado da avenida. De longe pareciam livros. Lógico, atravessei pra conferir. Eram álbuns de fotografia. Dezenas deles. Acho que, sem exagero, uns oitenta. Álbuns grandes e grossos. Daqueles antigos, com acabamento luxuosos, em couro. Todos minuciosamente catalogados. Lugares e datas. Tudo organizado e legendado com caneta esferográfica de um azul desbotado. Lá estava, jogado no meio fio: o mundo todo e a história de alguém. Europa, EUA, Ásia, o mundo todo! Tinha até um álbum das Ilhas Galápagos. Vi fotos de um dragão de komoda. Depois de alguns instantes, um funcionário do prédio apareceu com um carrinho de supermercado com mais álbuns para jogar ali.

- De quem é isso? Perguntei.
- É de um senhor que morava aqui. Semana passada ele foi pruma casa de repouso e o filho mandou jogar tudo isso fora. O apartamento foi vendido.

Isso mesmo. O cara estava dispensando a história da família dele.

Quando falo história, estou falando do documento, do registro. Tenho certeza que a história de alguém não sei constrói com fotografias, óbvio.

E, na fotos, além de paisagens, há pessoas. Sempre as mesmas. São fotos de uma família em suas varias épocas e lugares do mundo. Vi a foto deste Homem, o funcionário mostrou uma. Ele não soube dizer o nome dele. Só sabe que está bem velho e foi prum asilo. E a história de uma vida toda ali, jogada. As pessoas foram se amontoando para olhar. Uma indignação só.

- Como pode?! Todos se perguntavam.
- Pode pegar?!
- Tão dando...?
- De quem é...?

E começaram a pegar. Fotos de praias, de montanhas, da neve, do gelo, de cidades e de épocas. E a história desse Cara sendo levada por todos. Esquartejada por anônimos. Sendo dividida por estranhos. Me bateu uma tristeza ver aquilo. Uma existência inteira jogada no lixo e sumindo na mão de várias pessoas. Em poucos instantes tudo desapareceu. A história de uma vida se transformou em vários fragmentos que, isoladamente, não contam nada. Que na mão dessas pessoas não representam nada. Eu também sai de lá solidário com esse Cara e me perguntando: como é que pode?!

Escrito por Jarbas Capusso Filho

6 de outubro de 2008

Estamos juntos, mas já pratico o adeus para que a solidão, na sua ausência, seja apenas mais um momento como os outros que passaram raspando e ralando meu corpo.