23 de junho de 2008

Está gelada a ilusão. Concreta? Chegou ao fim?
Vejo versos pausados. Frui uma sensação de see you, baby! Foi bom enquanto...
Beat only from freezer. Loucos. Até logo. Ok. Meu estômago já ronca. Desconsidero as palavras repetidas por outras bocas. Quero apenas que morda meu queixo e não se esqueça que te pertenceu. Sim. Mesmo quando ele estava em outra boca.

10 de junho de 2008

lar, doce lar? ou: macacos, me mordam.

Quando um sentado está debruçado sobre os livros, o que me resta senão a velha rede chapada de recordações? Vocês podem me perguntar sobre qualquer questão psicológica e a resposta será sempre a mesma: sei lá, procura alguém especializado pra falar sobre o assunto.
Tenho um teto de concreto pintado de branco e queria ver um monte de tijolinhos com uma arandela ambientando. A luz da minha casa é de necrotério. Essas lâmpadas frias são um descaso para com a imaginação. Essas lâmpadas são insuportavelmente necessárias pra economizar na conta de energia e para os outros da casa lerem. Eu sempre vou preferir a luz de velas. Até pra ler e por que não? Ah, faz mal à vista! Pois bem, dia desses conheci uma dessas moças que moram na rua e ela estava lendo em frente ao cemitério da consolação numa completa penumbra. Sem vela e sem poste. E eu perguntei se não doíam os olhos dela e ela disse: graças a Deus minha vista é perfeita. Então, não se iludam com as luzes.
Gosto de beber água em caneca de alumínio. Quanto a esse material brilhoso, só gosto das canecas, mesmo. O resto acho dispensável. Se bem que bacia de alumínio é linda à beça.
Detesto não querer fazer absolutamente nada no dia de hoje. Pensei que hoje fosse amanhã, saca? Sei lá, achei mesmo e quando vi que não era, fiquei deslocada.
Preciso ir ao dentista urgentemente. Ando beijando e estou com cárie, eu acho, embora não as veja e não sinta dor de dente. Eu nunca senti dor de dente. Quando eu era mais nova eu me lembro da minha mãe colocando xilocaína no cotonete e me dando pra passar na gengiva. Mas não lembro o porquê, talvez porque não me lembre da dor. E eu acho que era xilocaína.
Dia desses um moço me conheceu e disse que me adora. Será? Sabe, eu fico com preguiça de investir, de me apaixonar. Treinei tanto o desapego que nem me apego pra desapegar. Tá tudo bem líquido, como diria Hilda Hilst ou o meu amigo Bakuna. Mas parece que com o moço vai rolar um afeto apegante desgrudado. Ainda bem que ele se locomove sobre rodas sem motor. Chega mais rápido, considerando a megatróglopide que é São Paulinho da ex-garoa e do ex-clube de regatas do Tietê.
Um beijo pro time do coração de cada um, inclusive pro ABC de Natal, onde o Papai Noel esqueceu a Mamãe Noel e os jogadores entraram em campo com tudo.
Salve-se quem puder de tanta baboseira, ou se preferirem: baboseira vem de babosa e babosa faz um bem danado pra pele e pros cabelos, recomendo.

t-r-a-n-s-e

Pan pan pan pan…

Pan pan pan pan…

Era assim que a música me chacoalhava inteira. Ela me deixava cobra se arrestando. Comprimia meus músculos. E eu, sem perceber, subia e descia paredes.

Entre um trago e outro de vodka, eu absorvia e exalava a energia sexual do último dia da minha vida. Apoiada sobre as ancas eu só conseguia suspirar. Parecia mais um urro de lobo na lua cheia. Um tigre que devorava e desencravava as próprias entranhas.

Uma gaita insistia em meus ouvidos. Uma incontrolável saudade banhava a demência daquele momento. E que saudade!

Um grito de porta quase me fez sair do transe egocêntrico. Os vinis, a essa altura, já estavam sob mim. Fizeram a cama e eu caí. Eu ruí. Os sons daqueles velhos amigos amaciaram a queda quase fatal. Amigos empoeirados.

Pan pan pan pan pan...

Pan pan pan pan pan...

A música insistia em me abandonar ao instinto sensual. Eu bolia com a maciez da vulva. Um líquido transparente deslizava tão devagar como se quisesse fecundar. Eu podia ouvir o seu barulho fértil. Algo em mim tentava vida própria, que ironia! A ironia da inconsciência.

Os vinis continuavam interessados na insensatez que os sucumbia. Curiosos, eles derretiam. A tinta das paredes derretiam. Os livros, em chamas. Os móveis pingavam o meu suor. O chão, receptáculo da loucura toda, se gabava. Os tambores tomaram conta.

O que for, que seja.

Enquanto isso eu fremia louca. Demasiado louca. Não era mais que um carvão em brasa. Os olhos escondiam-se na sua brancura. Os pingüins desfilavam dirigindo-se até mim.

Eu estava sentindo o frescor que eles traziam. Um frescor incrível como as ondas em alto mar. Eram fuzileiros da condenação. Eu ia ser fuzilada e só conseguia sentir o mais incrédulo de todos os prazeres que tive.

As luzes piscavam. Eu, cada vez mais, atordoada. Tonta. Transe pitoresco.

O abraço me atingiu. Senti o corpo trepidar. E ainda viva estive morta. Aquele abraço me abraçou de uma vez, sem sorrisos, sem ser educado ou gentil. Um abraço sem curvas.

Um líquido frio e cortante que flamejava. Fui perdida, esquecida naquele abraço. Desamparei a mim mesma. Decomposta e atestada morta.

Fidelidade X Honestidade

9 de junho de 2008

Jacaré
refém
suicidou-se

amém

"mundo
mundo
vasto
mundo"

jacaré
refém
secou
no rio

Molécula de água de uma nascente

as-sas-si-na-do


Molécula de água de um rio poluído


"mundo
mundo
vazio
mundo"

6 de junho de 2008

O olhar é oco
Ocelo
Acaso solitário
Escorre inóspito
Desmaia em abissal
Dautonismo

Células dançam.
Não morrem.
Moléculas.
Estamos.
Mover a não essência.
Pra quem conhece, aprenda a desconhecer, só pra conhecer melhor e deixar de acreditar que o que é será pra sempre.

3 de junho de 2008

Umbral

Constante. O tempo todo. Cansa. Descansa numa rede qualquer pra ver se encontra outros ou outras. Me larga. Tem tantos e tantas por aí. Enjoei. Enjoada de ser sempre eu a bela de todas as horas. Dilata. Me deixa escapar desta sua contração. Parto. Esmaga. Larga. Seqüela nada paralela. Transversal. Rua acabada de ser colocada no mapa. Cidade qualquer. Dia comum. Sem classificação. Catadora de papel sujo e plástico derretido. Nada.