12 de maio de 2008

soul



Bin - Você tem medo?

Bakuna - De que? Você não diz nada com nada.

Bin - Do terrorismo?

Bakuna - De qual terrorismo?

Bin - Como assim, “de qual terrorismo”?

Bakuna - Desses de homens encapados em fios-bomba? Extermínio de presos nessas cadeias imundas? Pit-bulls que dilaceram seres humanos indefesos? Seqüestros, assaltos a mão-armada? É desse terrorismo que você está falando?

Bin - Claro! E de qual haveria de ser, oras?

Bakuna - O terrorismo de não ser, “oras”!

Bin - Como assim?

Bakuna - Quem é você?

Bin - Que pergunta é essa?

Bakuna - Quem é você?

Bin - Eu tenho um nome, endereço fixo, emprego fixo, amigos, previdência social, salário, conta bancária...

Bakuna - E o que tem de você nisso tudo?

Bin - Oras, como assim?

Bakuna - Você existe?

Bin - Dá pra ser mais claro?

Bakuna - Claro. As coisas existem em você. Um beijo virou mercadoria no seu dia-a-dia. A lua é apenas um ornamento que pode ou não caber dentro do seu orçamento. O que você diz ser, é fantasioso. Você só aceita a receita. Seu bolo é padronizado. A sua vida já deixou de ser alquimia faz tempo. E seu tempo, então? Cronologia pura. As suas horas estão desgastadas no chão de concreto e fabricação barata que você pisa. Seus crimes são contra sua própria essência. E você sequer percebe que você nem existe. Te encaparam de um jeito tão belo pros padrões que faz tudo parecer sonho. Um sonho que de onírico só resta a piedade alheia.

Bin - Eu acho que você é louco!

Bakuna - Conclusão prática pra encher os hospícios.

Bin - Você é louco.

Bakuna - Por que você não se mata? Em nome de ser quem você é. Pronto! Um harakiri em nome do seu nome, de seu estilo de vida? Você teria coragem?

Bin - Não tinha pensado nisso...

Bakuna - Eu poderia dissertar sobre os mártires do suicídio. Eles serão eternamente lembrados. O que você acha de entrar pra história como eles? Só te falta isso pra você provar ser quem você é... E então? O que você acha?

Bin - Você me ajudaria?

Bakuna - Taí uma coisa que sei fazer muito bem!

Bin - Você vai descrevendo sobre os mártires enquanto eu vou sumindo.

Bakuna - Podemos começar agora?

Bin - Preciso me preparar.

Bakuna - Pra morrer?

Bin - Não, pra entrar pra história!

Bakuna - Claro!

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